"...consistência total equivale, na prática, ao fanatismo, enquanto a inconsistência é a fonte da tolerância." (Leszek Kolakowski)
Deparei-me
com a frase acima no blog http://teoriasdomondego.blogspot.com.br/ e
achei genial, pois resume bem essa loucura que é nos acharmos donos da
"verdade" e de em nome dela nos tornarmos tão rígidos a pontos de não
tolerar o outro.
Vemos isso muito facilmente na Religião, onde o sujeito
constroi um conjunto de teorias como se talhasse uma caixa de madeira e acha
que poderá colocar Deus dentro dela. Como o deus da caixa se
tornou propriedade dele ele se acha no direito de julgar aqueles que
são contrários a ele.
O
fato é que:
1) O Criador de todas as coisas é um
Mistério que transcende todo entendimento humano. O mistério é diferente de ignorância,
enquanto a ignorância é aquilo que me vitima quando não tenho acesso ao conhecimento,
o mistério por outro lado é aquilo que persigo com meu conhecimento, mas meu entendimento jamais consegue
compreender como todo, pois vai além das limitações do pensamento humano;
2) A intolerância nos afasta daquilo que
é a essência de Deus: O amor .
Mas
tudo que disse até aqui é apenas uma introdução, pois não é
de fundamentalismo religioso que desejo falar, e sim da intolerância nas
relações.
Nos relacionamentos ter razão é um grade desafio
em nome dela nos sentimos no direito de julgar o outro.
Nos
relacionamentos o fato de determos a razão em relação ao outro que de
acordo com nosso parâmetro de julgamento estar errado é um grande desafio, pois
devido a isso nos sentimos no direito de julgá-lo, cobrá-lo e às vezes até
pisá-lo. E tudo isso acaba por ganhar força dentro de nós, afinal temos motivo plausiveis e o outro nos causou prejuízo.
Nesse
aspecto "cobrar" o preço de nossa razão pode nos causar um prejuízo
muito maior, pois isso pode nos fazer perder os laços com quem amamos. Não falo
aqui em aceitar tudo que o outro nos faz e engolir todo sapo que a vida nos
coloca a frente, falo apenas da possibilidade de exercitarmos o perdão e de oferecermos
ao outro o benefício da dúvida sobre a sua probabilidade de mudança e de
mostrar que é possível tentar de novo e também de nos colocar no lugar do outro
e de até mesmo admitir que no lugar dele talvez nos também pudéssemos cometer os
mesmos erros.
Para
manter a saúde emocional muita vezes precisamos assumir a incoerência contra a
razão e com isso tolerar o outro. É sempre bom lembrar do benefícios gerados
pelo mistérios do amor que se multiplica em benção enquanto é dividido entre
aqueles que apesar de suas falhas e limitações se fazem irmãos e buscam
conviver em afeição.
Neste
aspecto é que o Cristo nos convida à maturidade quando no Sermão do Monte
(Mateus 5:43-47) nos ensina:
- “Amem os seus inimigos e orem por aqueles
que os perseguem”.
Ele
não nos manda fazer isso para sermos piegas e bonzinhos bobocas que aceitam
todo mal contra si. Logo em seguida o Cristo nos revela o verddeiro motivo:
-
“Para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele
faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos.”
Ou
seja é para moldar a única pessoa a quem eu posso mudar enquanto exerço meu
julgamento: Eu mesmo. Ele nos chama a
encarar a vida como o olhar generoso, gracioso e altruísta sem se preocupar em
andar por aí dando uma de COELCE querendo cortar a luz dos outros, nos convida
a ir para além disso:
-
“Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa vocês receberão? Até os
publicanos fazem isso! E se saudarem apenas os seus irmãos, o que estarão
fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso!”
O
perdão e graça são duas faces de uma mesma moeda, pois enquanto um recebe de
graça o perdão de sua culpa o outro paga o preço de assumir o prejuízo que
implicar em deixar para trás a possibilidade de cobrar ao outro o preço do mal
que ele causou.
O
caminho do perdão a principio parece muito fácil para quem o recebe e muito difícil
para quem perdoa, mas ele enche de alivio a vida de quem se deixa liberar de
tanta cobrança contra o outro e acaba colocando sobre os ombros do perdoado compromisso
com a gratidão.
"Regresso do Filho Pródigo", de Rembrandt
retrata um dos mais belos textos do Novo Testamoento
sobre o perdão: Lucas 15:11-32,
Fortaleza-Ce, 25/11/2012.
Eu até entendo quem se acha absolutamente certo, querer julgar/condenar/converter os que tem opinião controversa.
ResponderExcluirAfinal, que tem a verdade absoluta não irá mudar e faz total sentido querer que todos enxerguem a luz como ela a enxergou.
O foda é a pessoa achar que está absolutamente certa (sobre qualquer aspecto).
=/