segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Amor, tolerância e perdão.



"...consistência total equivale, na prática, ao fanatismo, enquanto a inconsistência é a fonte da tolerância." (Leszek Kolakowski)



Deparei-me com a frase acima no blog http://teoriasdomondego.blogspot.com.br/ e achei genial, pois resume bem essa loucura que é nos acharmos donos da "verdade" e de em nome dela nos tornarmos tão rígidos a pontos de não tolerar o outro. 

Vemos isso muito facilmente na Religião, onde o sujeito constroi um conjunto de teorias  como se talhasse uma caixa de madeira e acha que poderá colocar Deus dentro dela. Como o deus da caixa se tornou propriedade dele ele se acha no direito de julgar aqueles que são contrários a ele. 

Deus não cabe na caixa doutrinaria do religioso

O fato é que:

1)    O Criador de todas as coisas é um Mistério que transcende todo entendimento humano. O mistério é diferente de ignorância, enquanto a ignorância é aquilo que me vitima quando não tenho acesso ao conhecimento, o mistério por outro lado é aquilo que persigo com meu conhecimento, mas meu entendimento jamais consegue compreender como todo, pois vai além das limitações do pensamento humano;

2)    A intolerância nos afasta daquilo que é a essência de Deus: O amor .


Mas tudo que disse até aqui é apenas uma introdução, pois não é de fundamentalismo religioso que desejo falar, e sim da intolerância nas relações.
 
Nos relacionamentos ter razão é um grade desafio
em nome dela nos sentimos no direito de julgar o outro.

Nos relacionamentos o fato de determos a razão em relação ao outro que de acordo com nosso parâmetro de julgamento estar errado é um grande desafio, pois devido a isso nos sentimos no direito de julgá-lo, cobrá-lo e às vezes até pisá-lo. E tudo isso acaba por ganhar força dentro de nós, afinal temos motivo plausiveis e o outro nos causou prejuízo.

Nesse aspecto "cobrar" o preço de nossa razão pode nos causar um prejuízo muito maior, pois isso pode nos fazer perder os laços com quem amamos. Não falo aqui em aceitar tudo que o outro nos faz e engolir todo sapo que a vida nos coloca a frente, falo apenas da possibilidade de exercitarmos o perdão e de oferecermos ao outro o benefício da dúvida sobre a sua probabilidade de mudança e de mostrar que é possível tentar de novo e também de nos colocar no lugar do outro e de até mesmo admitir que no lugar dele talvez nos também pudéssemos cometer os mesmos erros.

Para manter a saúde emocional muita vezes precisamos assumir a incoerência contra a razão e com isso tolerar o outro. É sempre bom lembrar do benefícios gerados pelo mistérios do amor que se multiplica em benção enquanto é dividido entre aqueles que apesar de suas falhas e limitações se fazem irmãos e buscam conviver em afeição.

Neste aspecto é que o Cristo nos convida à maturidade quando no Sermão do Monte (Mateus 5:43-47) nos ensina:

 - “Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem”.

Ele não nos manda fazer isso para sermos piegas e bonzinhos bobocas que aceitam todo mal contra si. Logo em seguida o Cristo nos revela o verddeiro motivo:

- “Para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos.”

Ou seja é para moldar a única pessoa a quem eu posso mudar enquanto exerço meu  julgamento: Eu mesmo.  Ele nos chama a encarar a vida como o olhar generoso, gracioso e altruísta sem se preocupar em andar por aí dando uma de COELCE querendo cortar a luz dos outros, nos convida a ir para além disso:

- “Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa vocês receberão? Até os publicanos fazem isso! E se saudarem apenas os seus irmãos, o que estarão fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso!”

O perdão e graça são duas faces de uma mesma moeda, pois enquanto um recebe de graça o perdão de sua culpa o outro paga o preço de assumir o prejuízo que implicar em deixar para trás a possibilidade de cobrar ao outro o preço do mal que ele causou.

O caminho do perdão a principio parece muito fácil para quem o recebe e muito difícil para quem perdoa, mas ele enche de alivio a vida de quem se deixa liberar de tanta cobrança contra o outro e acaba colocando sobre os ombros do perdoado compromisso com a gratidão.




          "Regresso do Filho Pródigo", de Rembrandt 
retrata um dos mais belos textos do Novo Testamoento 
sobre o perdão: Lucas 15:11-32,

Danúbio Júnior
Fortaleza-Ce, 25/11/2012.

Um comentário:

  1. Eu até entendo quem se acha absolutamente certo, querer julgar/condenar/converter os que tem opinião controversa.

    Afinal, que tem a verdade absoluta não irá mudar e faz total sentido querer que todos enxerguem a luz como ela a enxergou.

    O foda é a pessoa achar que está absolutamente certa (sobre qualquer aspecto).

    =/

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